quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

NOME-DO-PAI E A ATUALIDADE

Posto aqui a apresentação oral do trabalho que realizei durante a Pós Graduação.



Pretendo relatar o pai em Freud e o pai em Lacan, utilizar as conjunturas teóricas de cada qual em uma leitura nos tempos atuais.
O que indica os novos tempos é a mudança no discurso, provocado pelo meio social, e onde há uma mudança no discurso há uma mudança na função de formação do mesmo. E sabe-se que um discurso para a psicanálise se funda na aplicação da função do pai. A gênese que leva a esse atual discurso pode apresentar-se no inicio da revolução francesa, onde nota-se o começo do declínio do pátrio poder, que conseqüentemente pode gerar o decaimento de um referencial simbólico na família e no meio social. Somado a queda desse referencial simbólico, estão os novos discursos sociais; o da ciência e o discurso da economia liberal. Ambos são significativos quando se trata do sujeito e sua relação com o gozo, pois realizam a modificação nas leis da linguagem, no âmbito da analogia do sujeito com o objeto de desejo.
O que faz pensar que a função do pai de fato se realiza, entretanto pode conter outros significantes vigentes do contexto cultural.
Freud nos trás duas formas consideráveis de função de pai: O pai do Édipo e o pai do Totem e Tabu, ambos apontam um pacto social em relação ao gozo, onde há um ponto de basta, que possibilita a continuidade da vida social. É o Gozo Falicamente organizado.
Lacan na sua releitura do Édipo eleva o pai para uma condição de metáfora, desenvolvendo a partir dessa função, o pai do RSI, o Nome do pai e ou o Nomes do pai, considerado o quarto nó. A verificação de Lacan descentraliza a função do pai ao pai propriamente dito. Essa diferenciação foi necessária para a manutenção da psicanálise nos tempos atuais.
Pois na atual condição cultural o pai que Freud nos apresentava, dificilmente acompanharia as mudanças cultural na família e no meio social.
Tanto Freud como Lacan, buscavam validar a função do pai no meio social como uma forma de simbolizar o mal estar do sujeito em cada momento cultural. Com a releitura de Lacan a Freud, surgem elementos teóricos importantes, que auxiliam a leitura da função do pai na atualidade.
A condição atual cultural nos apresenta um pai humilhado, pela ciência e pela economia, ou seja, pelo Outro Social. O que faz surgir uma nova proposta quanto à forma de gozar, que propõe ultrapassar as condições antes estabelecidas quanto ao gozo. Esse pai humilhado representa a substituição do Outro pelo Outro social, e com isso uma nova constituição subjetiva do sujeito. Isso tem implicações diretas nas leis da linguagem.
O Outro propunha um ponto de basta em relação ao objeto de desejo, apontando para as relações verticais, como nos mostra o pai do Édipo. O Outro Social, ao contrário, coloca o sujeito em estado de adição, apontando para relações horizontais, que são igualitárias. Com isso o recalque toma outra qualidade na relação do sujeito com o desejo inconsciente e aponta um desinvestimento do inconsciente, que assim perde a capacidade de fazer discurso. Penso que essas mudanças nas leis da linguagem e na sua relação ao gozo, privilegiam o gozo objetal em detrimento do gozo fálico.
O discurso do Outro Social que salienta o estado de adição aos objetos, faz crer que o objeto do desejo, antes vivenciado no semblante do gozo fálico, atualmente pode ser encontrado na realidade. Especificando: o gozo fálico nos possibilita somente gozar com o semblante do falo, já o gozo objetal nos permite pegar o próprio objeto real, ficando abolida as diferenças, já que basta apenas ter e não ser.
O ponto critico desse fato é a dificuldade da estruturação de um sujeito que tem como base o atual discurso, que não apresenta um gênese fálica, mas objetal, pois -Se um significante não tem mais a função de representar um sujeito para um outro significante ele é convocado a seguir o que o outro nos propõe. Logo como o sujeito vai se representar?
Então nota-se que atualmente a função do pai esta para além do Édipo estipulado por Freud, e mais para as amarras de Lacan com os Nomes do Pai, que busca dar conta do atual mal estar da civilização. Sendo ainda o que possibilita a atualidade na Clínica. Mas é no retorno a base da função do pai que podemos notar e nomear o que se passa na atual cultura. É ou não é saber usar o Nome do Pai e servi-se dele?

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