domingo, 26 de dezembro de 2010

Jovens Coloridos e Música Enlatada



Em quase todos os lugares públicos no qual andamos notamos jovens com trajes de cores neutras, que pouco lembram as vestimentas do atual deputado Tiririca. Bem capaz! Hoje pra se andar na rua é necessário óculos escuros e dentro dos Shopping Center mais ainda. Esses jovens mantém as mesmas características típicas da adolescência; ficam em grupo e necessitam dele, buscam uma identidade e talvez por isso se aventurem nessas roupas circenses. O que mais me toca nesse fato é o imperativo social que vejo surgir, que condiciona a uma especificidade nos comportamentos que tange ao consumo, a moda já diz – Estar colorido requer muitas roupas de cores, e que são de certa forma caras pela demanda. E assim me parece que é necessário ter para poder ser, ou seja, há um imperativo social que coloca o dinheiro em primeiro lugar, literalmente pobre e opaco de quem não o tem.

Contudo parece-me que participar de um grupo atualmente requer um pedágio, pois passa pelas leis do mercado. Quem não se sente mais presente na sociedade de hoje com um Iphone? O mesmo imperativo social não escapa aos jovens.

Penso na possível angústia de jovens que estão a par dessa margem de renda e que buscam elementos para um parâmetro de identidade, muitos amenizam por meio da chamada marginalidade, tachada por muitos de perversidade. Entretanto uma medida para fazer parte do meio social, pois o que seria de você sem seus bens?

Enfim, o consumo pode ditar a identidade. Em uma aula da especialização o professor perguntou – O que é ser homem hoje? E respondeu rindo – Eu vi esses dias na Batel um cara, com uma Ferrari vermelha conversível com duas loiras “bombadas”, ahahahhaha, isso é ser um homem atualmente. Nesse momento me lembrei da frase citada pelos movimentos dos anos 60 e 70 – É melhor ser do que ter. Mas hoje desde de jovem se consome entre musicas enlatadas que requer um RESTART e roupas coloridas. Consumindo e existindo, hoje falam que é melhor ter. Ahahaha...

domingo, 12 de dezembro de 2010

O Amor em suas razões e possibilidades...


Lacan coloca que - O amor é uma forma de suplência a falta. Logo uma forma de contornar o vazio, por meio de uma aposta que é particular a cada pessoa. Talvez a forma mais leve de se amar é - A amar por amar, independente de como seja a pessoa, sabendo que não há um Outro. Pensando nisso lembrei de um poema:

As sem-razões do amor

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor

Carlos Drummond de Andrade.


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

NOME-DO-PAI E A ATUALIDADE

Posto aqui a apresentação oral do trabalho que realizei durante a Pós Graduação.



Pretendo relatar o pai em Freud e o pai em Lacan, utilizar as conjunturas teóricas de cada qual em uma leitura nos tempos atuais.
O que indica os novos tempos é a mudança no discurso, provocado pelo meio social, e onde há uma mudança no discurso há uma mudança na função de formação do mesmo. E sabe-se que um discurso para a psicanálise se funda na aplicação da função do pai. A gênese que leva a esse atual discurso pode apresentar-se no inicio da revolução francesa, onde nota-se o começo do declínio do pátrio poder, que conseqüentemente pode gerar o decaimento de um referencial simbólico na família e no meio social. Somado a queda desse referencial simbólico, estão os novos discursos sociais; o da ciência e o discurso da economia liberal. Ambos são significativos quando se trata do sujeito e sua relação com o gozo, pois realizam a modificação nas leis da linguagem, no âmbito da analogia do sujeito com o objeto de desejo.
O que faz pensar que a função do pai de fato se realiza, entretanto pode conter outros significantes vigentes do contexto cultural.
Freud nos trás duas formas consideráveis de função de pai: O pai do Édipo e o pai do Totem e Tabu, ambos apontam um pacto social em relação ao gozo, onde há um ponto de basta, que possibilita a continuidade da vida social. É o Gozo Falicamente organizado.
Lacan na sua releitura do Édipo eleva o pai para uma condição de metáfora, desenvolvendo a partir dessa função, o pai do RSI, o Nome do pai e ou o Nomes do pai, considerado o quarto nó. A verificação de Lacan descentraliza a função do pai ao pai propriamente dito. Essa diferenciação foi necessária para a manutenção da psicanálise nos tempos atuais.
Pois na atual condição cultural o pai que Freud nos apresentava, dificilmente acompanharia as mudanças cultural na família e no meio social.
Tanto Freud como Lacan, buscavam validar a função do pai no meio social como uma forma de simbolizar o mal estar do sujeito em cada momento cultural. Com a releitura de Lacan a Freud, surgem elementos teóricos importantes, que auxiliam a leitura da função do pai na atualidade.
A condição atual cultural nos apresenta um pai humilhado, pela ciência e pela economia, ou seja, pelo Outro Social. O que faz surgir uma nova proposta quanto à forma de gozar, que propõe ultrapassar as condições antes estabelecidas quanto ao gozo. Esse pai humilhado representa a substituição do Outro pelo Outro social, e com isso uma nova constituição subjetiva do sujeito. Isso tem implicações diretas nas leis da linguagem.
O Outro propunha um ponto de basta em relação ao objeto de desejo, apontando para as relações verticais, como nos mostra o pai do Édipo. O Outro Social, ao contrário, coloca o sujeito em estado de adição, apontando para relações horizontais, que são igualitárias. Com isso o recalque toma outra qualidade na relação do sujeito com o desejo inconsciente e aponta um desinvestimento do inconsciente, que assim perde a capacidade de fazer discurso. Penso que essas mudanças nas leis da linguagem e na sua relação ao gozo, privilegiam o gozo objetal em detrimento do gozo fálico.
O discurso do Outro Social que salienta o estado de adição aos objetos, faz crer que o objeto do desejo, antes vivenciado no semblante do gozo fálico, atualmente pode ser encontrado na realidade. Especificando: o gozo fálico nos possibilita somente gozar com o semblante do falo, já o gozo objetal nos permite pegar o próprio objeto real, ficando abolida as diferenças, já que basta apenas ter e não ser.
O ponto critico desse fato é a dificuldade da estruturação de um sujeito que tem como base o atual discurso, que não apresenta um gênese fálica, mas objetal, pois -Se um significante não tem mais a função de representar um sujeito para um outro significante ele é convocado a seguir o que o outro nos propõe. Logo como o sujeito vai se representar?
Então nota-se que atualmente a função do pai esta para além do Édipo estipulado por Freud, e mais para as amarras de Lacan com os Nomes do Pai, que busca dar conta do atual mal estar da civilização. Sendo ainda o que possibilita a atualidade na Clínica. Mas é no retorno a base da função do pai que podemos notar e nomear o que se passa na atual cultura. É ou não é saber usar o Nome do Pai e servi-se dele?

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Remedinhos Delivery - Sempre a sua mão.


O telefone toca.
- Consultório "DSMIV" bom dia. Atende a recepcionista.
- Oi! Olha meu remédio acabou o Dr. Ato Médico, pode fazer outra receita?
- Faz quanto tempo a tua última consulta?
- Dois meses, moça.
- Ta bem, qual é o teu nome?
- Bipolar.
- “Ta certo”. Eu vou pedir pra ele fazer a receita, em dois dias você vem até aqui pegar a receita, com os mesmo “remedinhos” da anterior.
- Ai moça que bom.
- Disponho e "Ri melhor quem Ri votril".

Evidente que o menos importante é o sujeito, mas sim a fenomenologia e claro – A moda dos últimos tempos, a Majestade o Remédio. É como ir de trem bala a idade da pedra ao validar um discurso que foraclui o sujeito e faz valer um lugar, um lugar de nada, apenas de padronização e copia. Essa minha cena cotidiana me fez lembrar Stamira, quando relata – Os Drs são os copiadores.
“Sras e Srs. o pedido que o dialogo relata acima não é ficção, é recorrente, já vi e ouvi várias vezes”. – É ri, pra não chora, ehehe.