terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Etiquetas Psiquiátricas que afogam o Sujeito

Quando vi esse vídeo fiquei quieto e ri de felicidade e lembrei o quão mediócre é o CID, que têm como objetivo ser carregado por um tanque de guerra. Relembrei o quão é limitado o trabalho de um psiquiatra e psicólogos que limita o sujeito a um nome, não havendo um espaço para o discurso. O vídeo fala por si mesmo, uma bela poesia.


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Como se deve falar....



Hoje durante meu treino estava conversando com minha instrutora, assunto o qual nem me recordo, eu estava espontâneo, fala pelo prazer de falar. Foi quando em um dado momento ela me falou – Osvaldo, você fala como um garoto de 20 anos! Nesse momento eu parei de falar, pois fui indagado por um pensamento, esse por sua vez indagava – Mas quem disse que há um padrão cronológico quando há um objeto a. E continuei a pensar – Onde esta o manual especifico dos modos a se falar aos 27 anos. E respondi a ela – Mas eu não tenho 27 anos, tenho 7, eu adoro brincar! Ela não concordou e eu ri...

No fim da noite ao ler o Seminário 11 de Lacan, que transparece seu rompimento com a IPA, pelos seus questionamentos e métodos , os quais lhe oferecem um ponto de virada, ampliando seus conhecimentos e ensinamentos, e sempre sem negar sua herança Freudiana. Ao ler essas paginas notei que Lacan nunca rompeu com Freud, mas sim com os conceitos e valores que IPA dirigia a Psicanálise. Ele fez o que uma Psicanálise é capaz de fazer, ressaltar o objeto a. Tirando de cartaz o Outro onisciente e todas as suas condições pragmáticas de obediência a normas econômicas e políticas.

A Psicanálise vai de frente ao pragmatismo social ao ponto de ressaltar o que há de movimento no sujeito. Os analistas agem visando o Eros do analisando, o que pode ser o avesso do que é socialmente aceitável no momento histórico e particular. Tenho a idéia que ela possibilita a liberdade e o dedo que se aponta a quem goza é nada mais que a tentativa de não aceitar o destaque, classificá-lo na intenção de prender, para que o que há de solto em si fique mórbido.

Posso até dizer que cada herança se apóia na fantasia, que separa o sujeito dividido do objeto a, e claro que não se garante em fixações, e assim se escreve em “tenho 7 anos” e “Lacan – Eu sou Freudiano” e se apaga e se escreve de novo com as mesmas letras formando outras palavras.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Por não estarem distraídos....

Nem tudo é questão e resolução em análise, há lugares que não devem ser tocados, é um erro imaginar e ousar esgotar os elementos de cada cantinho... Deixa, fique... E que sempre haja uma leve embriaguez....

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que, por admiração, se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.


(Clarice Lispector)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Cada qual com seu cada um


Creio que antes ao ver alguém eu via o Outro que pela minha historia era mais meu do que a própria pessoa que estava a minha frente. E por ai a fora eu ia, não, mas sim por ai a dentro, né? Com pouca graça e palidez. Entretanto tudo que é pálido pouco brilha, ora perde-se validade e jogamos fora, ou cai como moedinhas de 1centavo no chão, sem valor. Mas claro depois de ver que a palidez não reflete a vida, mas uma forma de viver deformada, um mostro fantasmagórico. Não via a vida, mas sim o umbigo, uma ignorância que chamava de maravilhosa. Talvez por medo ou burrice. Entretanto aqui jaz.

Agora, fico de queixo caído quando vejo como cada um faz de sua vida uma singularidade. Andando por ai conheci um sujeito que nada quer saber de namorar, filhos e afins, mas sim tomar hormônios e malhar. Outro me diz que estuda para passar em concursos e esta noivo. Outro fica em casa fumando e bebendo café e é feliz. Uma me relata que vive à custa do marido e crê que sua obrigação é sustentá-la e comprar uma casa na Batel. Outro vive a buscar sua cara metade encantada. E aos poucos notei que cada um navega por mares diferentes, e cada porto vale uma esperança.

Quando me lembro dos relatos desses amigos e colegas, me vem à idéia da segunda clinica de Lacan, na qual todos são desprovidos de pai, todos deliram, entretanto as voltas do eixo fálico. É ou não é uma empreitada pelo mar? Uma viagem? Em busca da....

Cada um com seu mito, suas navegadas, que visto por outro sujeito, pode ser ridícula, mas pra quem crê é ouro. E atualmente com essa mudança de grau na barra do sujeito dividido, surgem comportamentos de vanguarda quase que a esmo, o que deixa as gerações anteriores tremulas as diferenças. Diferença essa que instala um silêncio entre as gerações, não se entendem e pior – querem entender. Os tempos mudam e o mundo se renova.

Frente à vida cada um busca formas e maneiras de ser feliz, cada um com seu cada um, cada um com seu delírio, com sua viagem e colocando-se no mundo. Para finalizar, quando li a seguinte frase no twitter, notei que ela poderia calhar com final - ‎"Existe duas maneiras de ser feliz nesta vida, uma é fazer-se de idiota e a outra sê-lo." Freud.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Status do Macho


Macho que é macho troca pneu de carro em plena tempestade de verão, com um charuto na boca e uma garrafa de aguardente na mão. Macho que é macho caga de bruço no chão com as pernas fechadas. Macho que é macho come todas “as muié”, e nunca abaixa a crista. Macho que é macho é anabólico e fala – Lugar de mulher é no tanquinho. Macho que é macho tem carro importado e voa baixo com sua moto. Macho que é macho é carinhoso e compreensivo. Macho que é macho sempre tem uma galinha amarela a seu dispor, e por ai vai... Do macho de cozinha ao macho metros-sexual

O discurso social muitas vezes autentica o ser macho, homem, por meio de insultos que circulam em todas as esquinas, bares, lares e afins. Fornecendo apenas algumas condições de ser macho e homem. O discurso se repete e ganha novas “Verdades” que agora há nas falácias do mercado neo liberal, exposto em vitrines, onde não há espaço para a angustia, tristeza e coisas de pessoas fracas. E o que vemos? - Esses sentimentos ressurgirem com a mesma intensidade que lhe viram as costas. O pior é quando nem isso acontece. Mas ao que eu quero dar uma pincelada não se refere a esse fato, mas sim ao discurso massacrante e imaginário que é impelido pelo social na certeza do que é um – Macho.

Para começo, Macho, não resume ninguém é apenas um significante, um semblante e uma hora ou outra se vai ao vento. Sabemos que nos respondemos, se podemos chamar de respostas, na cadeia de significantes, e essa condição que o social emprega como único é um insulto – um nome. Somos mais que isso, ser homem é estar na pluralidade para o fim de uma ética própria. Fato simples – Homossexual é um homem que gosta de homem. Toma! A primeira pedrada nessa frágil estrutura de vidro. Talvez isso explique os chiliques dos homofóbicos, essa homofobia que mais me parece uma homofolia recalcada.

Creio na necessidade, e como o único caminho o destacar-se desse discurso, descolar-se, cair, não aceitar esse insulto, esse nome. Mas sim, fazer valer sua própria ética, caso contrário o número de angustiados e depressivos enlouquecidos em seus estados pulsionais vão continuar ascendente rumo a crença em uma mentira desmedida.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O Corpo


O corpo existe e pode ser pego.
É suficientemente opaco para que se possa vê-lo.
Se ficar olhando anos você pode ver crescer o cabelo.
O corpo existe porque foi feito.
Por isso tem um buraco no meio.
O corpo existe, dado que exala cheiro.
E em cada extremidade existe um dedo.
O corpo se cortado espirra um líquido vermelho.
O corpo tem alguém como recheio.