quarta-feira, 30 de março de 2011

Psicanálise, uma Arte


A psicanálise por sua natureza apresenta-se no campo da ciência de forma diferenciada, singular e desprovida do discurso final, de mestria. Seu antônimo envolve a ciência desde seu sempre, sendo o pilar de suas justificações irredutíveis. Ao se apoiar no campo da palavra, a qual nuca se esgota, a Psicanálise admite-se de maneira tal que não visa uma verdade objetiva, comum nas práticas cientificas, mas sim na produção de algo corriqueiro a linguagem, a produção mítica.

A formulação discursiva, entende Lacan, é algo que não pode se minimizar a uma verdade, pois a definição de verdade se apóia sobre ela, e é na media em que a fala progride que encontramos a verdade, mas a fala nunca se limita a um fim, ela se esparrama em metonímias e metáforas, sempre sendo um grã, molécula solta no vasto campo de conjunção de letras e palavras, ficando a verdade sempre a ser.

Com isso a Psicanálise não visa sempre o mesmo fim, a produção final é uma variável, independente de suas técnicas e modos operacionais. Ela é comparável a uma arte-liberal, pois relatada e possibilita a relação do homem consigo mesmo, um mergulho em falácias de seus fantasmas, sintomas.... Favorecendo uma relação interna, fechada sobre si mesmo, inesgotável que o uso da fala comporta na sua máxima excelência. Isso é uma ARTE.

quarta-feira, 23 de março de 2011

SUJEITANDO-SE

O QUASE.

A PERDA.


A LETRA.

O SUJEITO.

- Como falar de mesma coisa de formas diferentes.

terça-feira, 22 de março de 2011

sexta-feira, 11 de março de 2011

Espião de mim mesmo


A pequena cidade passa aos meus olhos, mau sabem que sou um espião que copia as almas que vagam cá e acolá, pobre cachorro que não me escapa, amores que não ficam e dias que deixam gosto de até mais, de uma soma que demora. O encontro das almas demoram, erramos a esmo. Copio e colo em letras as almas.

Um dia você me sorriu, em meio a músicas, barulho, cervejas e almas, entre elas a minha, envergonhada por estar só. Eu diria e muitos concordariam que foi um convite, não um sorriso, você me mostrou que se pula e se dança e rir é um estado natural da alma. Passei dias vivendo, como se olhasse uma fotografia, um retratado que nunca me mostraram, mas que sempre procurei coisa de instinto.

Enquanto isso a pequena cidade caminhava e ouvia de fora almas gritando por estarem bêbadas e eufóricas, mas logo volta a sua alma, morena, cabelo preto longo que parecia estar no melhor lugar do mundo. Eu, oras, queria voar, ir mais lato que você e de lá te estender a mão, também tenho alma, ela pulsa, e no meio do salão gritei estou preso, e com um beijo na tua boca rompi tudo isso, senti meu corpo no teu, pele com pele, pelo com pelo, boca com boca, e sim – A textura vale. Ficamos em puro silêncio por minutos, eu acho. Eu tinha aceitado o convite, eu que caçava as almas alheias agora tinha a minha em mãos, e dela falava.

Ela passou anos sangrando em silêncio, nas presas de minhas próprias garras, mal sabia dela, sabia que doía e essa dor era confundida com tédio, derrotas e saco cheio. Uma alma devota, lindas, bonita aos olhos dos outros, olhos que meus olhos fizeram de garras. Lembro que semanas atrás ela encontrou algo e passou dias e noites vivendo, entre bares, camas e caricias. Essa felicidade tem nome, mas eu não conto, é meu segredo mais intimo e mas exposto, eu o vivo, e por ser só meu você fica a cargo da sua imaginação.

Hoje minha alma me leva, e te leva e entre outros... Agora sinto o gosto da saudade do até mais, e essa soma, que em dias será adição, e em dias se multiplicara em nomes e mais nomes, sou grato, fico em silêncio por respeito a nosso encontro, nossos passos foram lindos eternos, teu gosto permanece na minha boca e nessa cidade sempre serei um espião de nossas almas e aquelas que vagam nessas ruinhas apaixonadas ou não como eu.

(Frederico Almeida)

Passei a usar Black-tie


Através do filtro do sonho empoeirado observo somente a lembrança dos trajes do passado. As gavetas estão repletas de saias torcidas, todas mantendo o balanço amassado das rendas. Os lenços, os chalés, os colares... São para colorir e alegrar o espaço. Num cenário repleto de signos, nasce um personagem vivendo ideologias conhecida apenas nos livros de história. Numa época em que os sonhos escalavam as montanhas, e os cachos deslizavam sobre a minha cintura.

Mas a hipocrisia chegou também a mim. Os sonhos passaram a serem charutos enrolados por notas de dinheiro. A casa dos meus pais já não é mais minha. Não se compra mais dez pães por um real. As contas passaram a chegar pedindo pelo meu nome.

As ideologias eu retomo quando me chegar à velhice. Agora preciso trabalhar, preciso passar para o outro lado. No guarda roupa consta: vestido, camisa e bleizer, todos de cores neutras. Os acessórios são de prata, o cabelo agora é Chanel. Não tive escolha. Passei a usar Black-tie.


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Esse texto foi escrito por Cintia Clessi, considero uma nova escritora de Curitiba e de outros lugares, seus textos são publicados no seu Blog http://madameclessi.blogspot.com/. Encantado ao ler, fiz uma breve referência a sua obra com uma pitada de Psicanálise, melhor, um grão, molecola de pão.

O Real com suas intermináveis repetições inomináveis, que nos pegam de assalto assim como o cabelo que cresce, os pelos pelo corpo, as rugas, as unhas do pé depois de um dia longo de trabalho, elas já crescidas. A economia, a inflação, os dez pães que agora são quatro por um real, as metáforas os sonhos que nem sempre cabem por longas datas, são diluídos engolidos por outros mundos da realidade em assaltos, seqüestros, homicídios, novas gerações e a necessidade de sobreviver e ou viver, que nos faz “passar pro outro lado”.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Entre a Arte e o Trabalho


Com as especulações teóricas, conversas de supervisão e o dia a dia rodeado de pessoas que muito cedo levantam, de tarde tardam as suas casas e durante a noite acadêmicos me surge esse pensamento – A Arte e o Trabalho. A pouco a caminho do consultório me senti do alto frente a um formigueiro, várias pessoas a rápidos passos e não sei bem se sabendo o motivo pelo qual se colocavam de tal forma nas calçadas, em filas indianas, em silêncio fúnebre a caminho do trabalho.

Questiono-me quais são as palavras que articulam novas possibilidades as pessoas frente ao seu trabalho? Qual é o nome, a marca social que tem o trabalho? Qual o uso que se faz dela? Há uma condição de posição do sujeito frente ao trabalho?

Começo pensando como, desde o início da nossa formação cultural se estabeleceu essa relação entre homem e trabalho? Vejamos que sempre houve uma condição – Reis e Escravos. Ressalto que com a chegada dos colonizadores. Desde então esse foi o cenário que se estabeleceu e ainda se estabelece a condição de trabalho na nossa cultura, ou seja, desliza nesses dois significantes, quando o Real não invade com suas misera plasticidade.

Mas creio que as palavras como janela da alma evidenciam o peso de ambos os significantes, reis e escravos, que miram um ponto chave da topologia lacaniana, o eixo imaginário. Evidente que não somo um nem o outro, mas sim o que motiva a ação, muito mais interessante que ambas condições anacrônicas. Entretanto há uma necessária coragem para transcender tal ponto e assumir a condição de sujeito, que não visa um só resultado como o trabalho, mas sim caminha na pluralidade da alma aos desejos, anseios, que ganham forma e conteúdo.

O trabalho pode encalhar como um sintoma, amarrando o sujeito a um discurso pobre, chato e patético e todos os domingos e segundas-feiras passam a ser um parto lento a vida alguma. Muitos falam – Maldita músiquinha do Fantástico! E ainda comentam das caras de segunda – feira. Ambos talvez expressando um abandono a algo precioso de cada um.

Fora esse discurso, temos a possibilidade da arte, que visa a criação, não se limitando a um único e mero resultado. Entre a arte e o trabalho há o desejo ou o sujeito, que pode cair na ditadura do capital ou um artesão, um artista faz de seu oficio uma própria criação, tendo como guia o desejo.