quarta-feira, 2 de março de 2011

Entre a Arte e o Trabalho


Com as especulações teóricas, conversas de supervisão e o dia a dia rodeado de pessoas que muito cedo levantam, de tarde tardam as suas casas e durante a noite acadêmicos me surge esse pensamento – A Arte e o Trabalho. A pouco a caminho do consultório me senti do alto frente a um formigueiro, várias pessoas a rápidos passos e não sei bem se sabendo o motivo pelo qual se colocavam de tal forma nas calçadas, em filas indianas, em silêncio fúnebre a caminho do trabalho.

Questiono-me quais são as palavras que articulam novas possibilidades as pessoas frente ao seu trabalho? Qual é o nome, a marca social que tem o trabalho? Qual o uso que se faz dela? Há uma condição de posição do sujeito frente ao trabalho?

Começo pensando como, desde o início da nossa formação cultural se estabeleceu essa relação entre homem e trabalho? Vejamos que sempre houve uma condição – Reis e Escravos. Ressalto que com a chegada dos colonizadores. Desde então esse foi o cenário que se estabeleceu e ainda se estabelece a condição de trabalho na nossa cultura, ou seja, desliza nesses dois significantes, quando o Real não invade com suas misera plasticidade.

Mas creio que as palavras como janela da alma evidenciam o peso de ambos os significantes, reis e escravos, que miram um ponto chave da topologia lacaniana, o eixo imaginário. Evidente que não somo um nem o outro, mas sim o que motiva a ação, muito mais interessante que ambas condições anacrônicas. Entretanto há uma necessária coragem para transcender tal ponto e assumir a condição de sujeito, que não visa um só resultado como o trabalho, mas sim caminha na pluralidade da alma aos desejos, anseios, que ganham forma e conteúdo.

O trabalho pode encalhar como um sintoma, amarrando o sujeito a um discurso pobre, chato e patético e todos os domingos e segundas-feiras passam a ser um parto lento a vida alguma. Muitos falam – Maldita músiquinha do Fantástico! E ainda comentam das caras de segunda – feira. Ambos talvez expressando um abandono a algo precioso de cada um.

Fora esse discurso, temos a possibilidade da arte, que visa a criação, não se limitando a um único e mero resultado. Entre a arte e o trabalho há o desejo ou o sujeito, que pode cair na ditadura do capital ou um artesão, um artista faz de seu oficio uma própria criação, tendo como guia o desejo.

2 comentários:

  1. Trabalho é um dos modos de se gastar a vida.

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  2. Ouvi a Maria Anita Carneiro dizer na semana passada sobre o absurdo do happy hour, a hora feliz depois do trabalho - invenção de sujeitos que não o suportam.


    http://vemcaluisa.blogspot.com

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