Através do filtro do sonho empoeirado observo somente a lembrança dos trajes do passado. As gavetas estão repletas de saias torcidas, todas mantendo o balanço amassado das rendas. Os lenços, os chalés, os colares... São para colorir e alegrar o espaço. Num cenário repleto de signos, nasce um personagem vivendo ideologias conhecida apenas nos livros de história. Numa época em que os sonhos escalavam as montanhas, e os cachos deslizavam sobre a minha cintura.
Mas a hipocrisia chegou também a mim. Os sonhos passaram a serem charutos enrolados por notas de dinheiro. A casa dos meus pais já não é mais minha. Não se compra mais dez pães por um real. As contas passaram a chegar pedindo pelo meu nome.
As ideologias eu retomo quando me chegar à velhice. Agora preciso trabalhar, preciso passar para o outro lado. No guarda roupa consta: vestido, camisa e bleizer, todos de cores neutras. Os acessórios são de prata, o cabelo agora é Chanel. Não tive escolha. Passei a usar Black-tie.
O Real com suas intermináveis repetições inomináveis, que nos pegam de assalto assim como o cabelo que cresce, os pelos pelo corpo, as rugas, as unhas do pé depois de um dia longo de trabalho, elas já crescidas. A economia, a inflação, os dez pães que agora são quatro por um real, as metáforas os sonhos que nem sempre cabem por longas datas, são diluídos engolidos por outros mundos da realidade em assaltos, seqüestros, homicídios, novas gerações e a necessidade de sobreviver e ou viver, que nos faz “passar pro outro lado”.
Construção e desconstrução...
ResponderExcluirSaudações,
Paulo.