Creio que antes ao ver alguém eu via o Outro que pela minha historia era mais meu do que a própria pessoa que estava a minha frente. E por ai a fora eu ia, não, mas sim por ai a dentro, né? Com pouca graça e palidez. Entretanto tudo que é pálido pouco brilha, ora perde-se validade e jogamos fora, ou cai como moedinhas de 1centavo no chão, sem valor. Mas claro depois de ver que a palidez não reflete a vida, mas uma forma de viver deformada, um mostro fantasmagórico. Não via a vida, mas sim o umbigo, uma ignorância que chamava de maravilhosa. Talvez por medo ou burrice. Entretanto aqui jaz.
Agora, fico de queixo caído quando vejo como cada um faz de sua vida uma singularidade. Andando por ai conheci um sujeito que nada quer saber de namorar, filhos e afins, mas sim tomar hormônios e malhar. Outro me diz que estuda para passar em concursos e esta noivo. Outro fica em casa fumando e bebendo café e é feliz. Uma me relata que vive à custa do marido e crê que sua obrigação é sustentá-la e comprar uma casa na Batel. Outro vive a buscar sua cara metade encantada. E aos poucos notei que cada um navega por mares diferentes, e cada porto vale uma esperança.
Quando me lembro dos relatos desses amigos e colegas, me vem à idéia da segunda clinica de Lacan, na qual todos são desprovidos de pai, todos deliram, entretanto as voltas do eixo fálico. É ou não é uma empreitada pelo mar? Uma viagem? Em busca da....
Cada um com seu mito, suas navegadas, que visto por outro sujeito, pode ser ridícula, mas pra quem crê é ouro. E atualmente com essa mudança de grau na barra do sujeito dividido, surgem comportamentos de vanguarda quase que a esmo, o que deixa as gerações anteriores tremulas as diferenças. Diferença essa que instala um silêncio entre as gerações, não se entendem e pior – querem entender. Os tempos mudam e o mundo se renova.
Frente à vida cada um busca formas e maneiras de ser feliz, cada um com seu cada um, cada um com seu delírio, com sua viagem e colocando-se no mundo. Para finalizar, quando li a seguinte frase no twitter, notei que ela poderia calhar com final - "Existe duas maneiras de ser feliz nesta vida, uma é fazer-se de idiota e a outra sê-lo." Freud.
Lacan disse que a Psicanálise cura a ignorância, não a estupidez (genial, não?!)
ResponderExcluirOutra coisa...a melhor definição de projeção que já li, foi literária. Nada de psicológica ou psicanalítica. Disse Anais Nin que vemos as coisas como somos, e não como são.
(as palavras são de minha lembrança, mas é algo assim que ela diz).
O fato é que, sim, cada um busca alguma coisa ao seu modo, sem saber o que. Quem pode mergulhar em análise, morde a maçã. Bye, bye paraíso que nunca existiu!
Nossa, esse foi um dos melhores que já vi por aqui!
ResponderExcluirChega a ser poético! É poético.
Sabe a música da Adriana Calcanhoto "Esquadros"?
Lembrei dela te lendo.
Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo
Cores!
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção
No que meu irmão ouve
E como uma segunda pele
Um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Ai, Eu quero chegar antes
Prá sinalizar
O estar de cada coisa
Filtrar seus graus...
Eu ando pelo mundo
Divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome...
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...
Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm
Para quê?
As crianças correm
Para onde?
Transito entre dois lados
De um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo
Me mostro
Eu canto para quem?
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...
Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...
Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...
Linda, não?!
Primeiro, senti a leveza da mudança, depois seu respeito com o outro, o enxergar "verdadeiramente". E o melhor, de deixar que ele seja, saber que cada história, cada queixa é legítima, é dele...
Projeção é uma armadilha mesmo...
"Entretanto tudo que é pálido pouco brilha, ora perde-se validade e jogamos fora, ou cai como moedinhas de 1centavo no chão, sem valor."
Delicadíisima! Bela frase
No mais seguimos todos, cada qual com seus punhados, suas ilusões, com suas "viagens"...
Abç